Arquivos Pessoais: Reflexões Multidisciplinares e Experiências de Pesquisa

Isabel Travancas, Joëlle Rouchou e Luciana Heymann (Orgs.). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013 Indicação: Sílvia Fiuza, doutora em História da Cultura, mestre em Antropologia Social e representante dos Centros de Memória do Grupo Globo Tema: arquivologia

O livro reúne um conjunto de artigos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros apresentados no seminário realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa, em 2010, no Rio de Janeiro. A proposta é refletir sobre pesquisas em arquivos pessoais, dando visibilidade às narrativas produzidas por esses acervos documentais. A coletânea é dividida em três partes.

A primeira, “Pensando arquivo”, reúne quatro textos que têm como eixo de análise o ato de guardar registros, as condições sociais de construção dos arquivos, as estratégias de produção e as subjetividades envolvidas na constituição de acervos pessoais e na sua exibição pública. Trata também dos desafios metodológicos suscitados pela organização de acervos fotográficos. Os autores, por meio de uma abordagem etnográfica, compreendem os acervos pessoais como artefatos produzidos e dotados de atributos específicos. Do
ponto de vista das ciências sociais, são entendidos como fontes de pesquisa; e, do ponto de vista da arquivologia, são pensados a partir de sua contextualização.

A segunda parte, “Arquivos e Histórias”, se propõe a analisar determinados arquivos pessoais, suas condições sociais de construção, seus possíveis usos para os estudos da história intelectual e a sua ambivalência: tributários de processos individuais, de marcas pessoais e, ao mesmo tempo, inscritos no mundo público por meio da sua patrimonialização.

A última seção do livro, “Arquivos da literatura e das Artes”, reúne cinco artigos sobre arquivos de escritores, artistas e jornalistas que revelam a necessidade de, ao mesmo tempo, reterem suas marcas pessoais e se inscreverem num tempo social.

Trata-se de refletir sobre a construção da memória documental do indivíduo e, simultaneamente, compreender sua identidade coletiva. O livro finaliza com o questionamento: a perda dos suportes originais e da organização espacial dos registros definida pelo titular apagaria sua presença criativa? A digitalização dos documentos exigiria novas políticas de uso do acervo? O rearranjo dos documentos, viabilizado pela digitalização, alteraria o sentido original do arquivo, comprometendo sua compreensão como um todo orgânico dotado de uma lógica própria? Essas e outras são questões discutidas na publicação que merecem a reflexão por parte de profissionais e grupos que estudem ou atuem em instituições voltadas para a memória.