Smart – O que você não sabe sobre a internet.

Frédéric Martel. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2015. Indicação: Sílvia Fiuza, doutora em História da Cultura, mestre em Antropologia Social e representante dos Centros de Memória do Grupo Globo Tema: curadoria

Aqui o destaque é para Smart Curation (ou Curadoria Inteligente) é um capítulo do livro Smart, escrito pelo cientista social francês Frédéric Martel, sobre o impacto da internet em diferentes países. Ele constata que em cada lugar a rede provoca transformações culturais, políticas, econômicas e sociais distintas, demolindo a ideia de que a internet leva à homogeneização, ao fim dos limites geográficos tradicionais, à dissolução das identidades culturais, à pasteurização das diferenças linguísticas. Ao contrário, ela consagra o oposto: reforça as diferenças e as identidades.

O autor observa ainda que a rede tem produzido uma crescente fragmentação e que existe uma conexão entre a internet e o território físico e geopolítico onde ela é utilizada. Por isso, em vez de internet o autor se refere a internets, no plural.  Ao longo de todo o livro, Frédéric Martel visita experiências do uso da internet em sociedades e culturas nos mais diversos continentes: a reinvenção digital permanente que tomou conta do Vale do Silício, na costa oeste dos Estados Unidos, a proposta de e-commerce do Grupo Alibaba na China, o projeto de cidade inteligente no Quênia, as experiências digitais no Líbano, em Gaza, no México e nas favelas do Rio de Janeiro, entre outros.

O capítulo Smart Curation aborda, entre diversos assuntos, o uso de meios digitais em museus, acervos e centros culturais ligados à indústria criativa. Constata que há uma tendência cada vez maior nesses espaços de dar prioridade ao “diálogo” com seu público na organização de seus conteúdos. E verifica que mais do que uma ferramenta de comunicação global, a internet é, para esses museus, acervos e espaços culturais um meio de aproximação com o público local e ligado aos seus conteúdos.

Uma das seções mais interessantes desse capítulo é a que se refere ao próximo fim do papel do crítico da cultura e a afirmação crescente do “curador cultural”. Ele ilustra esse fato com a experiência das empresas especializadas na promoção do “buzz” – uma notícia, uma ideia, um conteúdo recente que, por meio de algoritmos, encoraja as pessoas a repassar a mensagem a outros. Essas empresas seguem o modelo da “curation”: buscam selecionar, avaliar e recomendar conteúdos existentes na internet. Por intermédio de algoritmos, ajudam internautas a se encontrar na massa de informações que se espalha na rede.

Porém, o autor ressalta que, se por um lado os críticos da cultura são uma espécie em extinção, porque estão sendo facilmente suplantados por cálculos matemáticos – mais velozes na recomendação de conteúdos -, por outro, esses algoritmos também podem ser distorcidos ou sujeitos a recomendar conteúdos nem sempre pertinentes. Frédéric Martel propõe, então, um novo modelo: a “smart curation”, uma editorialização inteligente, que permite a triagem, a escolha e a recomendação de conteúdos aos usuários, aliando os algoritmos possibilitados pela internet à intervenção humana. Como o próprio autor define, “trata-se antes de mais nada de uma recomendação que se vale ao mesmo tempo da força da internet e dos algoritmos, mas também do tratamento humano e de uma prescrição personalizada feita por “curadores”.

Essas são questões que estão na ordem do dia daqueles que trabalham em centros de memória que têm como uma de suas missões selecionar, avaliar, organizar e difundir informações para o público.