ABME entrevista: Tânia Lima, coordenadora da Memória Votorantim

  1. A Memória Votorantim inaugurou uma nova fase de trabalho em 2017, às vésperas do centenário da Votorantim. O que mudou no posicionamento da instituição?

Os primeiros 13 anos do Memória Votorantim foram focados em três frentes de trabalho: acervo, núcleo educativo  e memória. Todo o trabalho realizado até então, teve um resultado muito positivo, no entanto, era um trabalho que era mais percebido pelo público externo do que o interno. Com a empresa em constante transformação e sabendo-se que nosso público interno compreende um universo de mais de 30 mil funcionários (20 mil, se falarmos de Brasil), entendemos que era o momento de buscarmos um posicionamento mais estratégico e alinhado ao business, onde pudéssemos ressignificar a história com o olhar voltado para o futuro. A partir dessa percepção, revisamos os propósitos da área ampliando sua contribuição para Cultura Organizacional, Senso de Legado, Marca e Reputação, pautando seu trabalho na gestão do conhecimento e explorando a história na perspectiva não só do passado, mas principalmente da história em curso (presente e futuro). Para além de um Centro de Memória, hoje a área atua com um Hub de Conteúdo que gera conhecimento, inspira, engaja e  desenvolve a consciência histórica sobre a empresa e sua relação com a história do país.

 

2. Como você vê que os centros de memória podem auxiliar na estratégia das empresas?

Os CMs trabalham com um insumo com potencial indiscutível para ajudar as empresas em suas tomadas de decisão: a história! Por ser ela um atributo reputacional, é possível ampliar a reputação da empresa perante aos seus públicos, quer seja gerando conhecimento através de seus registros históricos, legitimando sua trajetória ou oferecendo canais para o compartilhamento de conteúdo e engajamento de funcionários e liderança.

 

3. Que materiais compõem o acervo da Memória Votorantim? De que forma vocês registram e divulgam esse acervo?

Como qualquer CM, o acervo é composto por fotos, objetos, documentos textuais, mapas, vídeos, etc. O acervo é registrado através de robusto banco de dados que permite uma gestão documental estratégica que assegura contextualização histórica para além da trajetória da empresa (história da Votorantim e sua relação com cenário industrial brasileiro). De olho na nova geração de talentos que entra para o mercado de trabalho, temos nos apoiado muito nas redes sociais não só para divulgar o acervo, mas principalmente, para gerar e compartilhar conhecimento e valor.

 

4. Como documentar e sistematizar a memória das empresas hoje? A tecnologia tem ajudado o setor de memória?

Diante do cenário avassalador que vemos hoje nas Redes Sociais, esse é um tema ainda prematuro que precisa de muita discussão. Pensando que hoje, ideias, estudos, projetos são discutidos e, até decididos, por aplicativos como Whatsapp ou que linhas do tempo são construídas em tempo real (Facebook, por exemplo),  temos nas mãos a grande responsabilidade de gerenciar e preservar essa história que se constrói hoje, pura e unicamente, nas redes sociais. Mas o que preservar diante desse volume incontável de registros que circulam nas redes? O que de fato interessa guardar? O que de fato representa um marco na história digital da empresa? Como gerenciar a quantidade imensurável de conteúdos multimídia que agregam hipertextos, vídeos, imagens, áudios, PDFs, etc.? Como preservar o legado das nossas empresas num ambiente tão dinâmico e com fluxo tão intenso de informações, de maneira que essa memória “do hoje, do agora” desperte curiosidade e não se perca?  Estamos falando de uma memória, que mesmo nas redes sociais corporativas, parece ser muito efêmera e imediata. Cabe a nós, como gestores de Centro de Memória, pensar em estratégias para assegurar a curadoria e perenidade desse legado empresarial que, apesar de digital e imediato, assim como nos registros em papel, conta a história do desenvolvimento das nossas indústrias, do nosso país e da nossa sociedade. Não tenho dúvidas de que os avanços tecnológicos são essenciais para darmos conta dessa revolução que envolve, inclusive, a memória empresarial. Será que a Inteligência Artificial, Big Data, Experiência Imersiva e tantas outras tendências da tecnologia não são o caminho para trabalharmos com a Memória Empresarial dos novos tempos? Certamente, a busca por essas respostas é um desafio em forma de oportunidade para todos nós!