ABME entrevista: Augusto Rodrigues

 

 

1. Neste ano, a Memória da Eletricidade completa 33 anos de atuação. Como você vê o trabalho da instituição hoje, se comparado à sua fundação? Quais foram as maiores conquistas neste período?

A Memória da Eletricidade foi fundada 1986 para ser uma instituição voltada à preservação da história da implantação e do desenvolvimento do setor elétrico no Brasil. Nesse objetivo, se consolidou como referência no campo, com uma atuação expressiva na pesquisa, salvaguarda de acervos e produção historiográfica.

Em 33 anos, publicou mais de 100 livros, entre obras que tornaram-se referência para pesquisadores do tema e técnicos do setor, como o Panorama do setor elétrico; publicações que exploram a influência da energia elétrica nas cidades e na vida cotidiana, como o Energia elétrica e urbanização na cidade do Rio de Janeiro; e edições comemorativas de aniversários empresariais, como o A Eletrobras no Espelho da História, vencedor do Prêmio Aberje de 2013. Também mantém e disponibiliza um acervo histórico com mais de 50 mil itens e uma biblioteca com mais de 12 mil livros e periódicos, além de desenvolver um programa de história oral que já entrevistou cerca de 300 técnicos e dirigentes do setor, acumulando um acervo de mais de 500 horas de gravações.

Nossa maior conquista, neste sentido, é ter acumulado toda essa expertise para hoje estarmos prontos para ampliar as atividades de gestão da memória, da informação e do conhecimento para além do setor elétrico, entendendo que esses três pilares são fundamentais e valiosos para empresas e sociedade. Abraçamos a natureza interdisciplinar do tema da energia, acreditando que quando a memória é trabalhada com propósito, ela gera conhecimento. Quando esse conhecimento é aplicado aos problemas contemporâneos, isso resulta na apresentação de soluções, que hoje chamamos de inovação. Mas somente quando essa inovação é compartilhada é que conseguimos promover a transformação das coisas e do mundo, como todos desejamos.

2.   Ao longo dessas três décadas, o próprio setor de memória empresarial também foi se desenvolvendo e se consolidando. Você acredita que a memória hoje ocupa um espaço estratégico nas empresas?

Sem dúvida. Vivemos em um período de valorização da cultura memorialística, com uma crescente no desenvolvimento de produtos voltados ao passado. Nesse contexto, o potencial estratégico das iniciativas de memória empresarial foi amplamente reconhecido por sua capacidade de tecer laços coesivos de aproximação entre empresa e comunidade e de fortalecimento da identidade empresarial.

Cada vez mais superamos a ideia de que recuperar, organizar e disseminar a memória de uma empresa se trata de um elogio vazio ao passado, passando a ver a memória como algo vivo, que se desdobra em narrativas e conteúdos com amplas possibilidades de uso a favor do futuro da organização e de seus objetivos presentes.

3.   Quais são os maiores desafios enfrentados pelos gestores de acervos empresariais e centros de memória?

Quando atuam de forma isolada, sem dúvida é provar o valor de investimentos em uma área que tem resultados intangíveis e, muitas vezes, pouco reconhecidos e aplicados pelas demais áreas da empresa. De modo geral, o grande desafio está em saber utilizar a história de uma empresa para além do resgate do passado. A sistematização da memória de uma empresa pode ser um dos melhores instrumentos à disposição da comunicação empresarial e corporativa, funcionando como agente catalisador no apoio a negócios, como fator de coesão do grupo e como elemento de responsabilidade social e histórica.

4.   A Memória da Eletricidade tem como um de seus pilares a Gestão da Informação. Quais os principais canais de disseminação do acervo da instituição? Como a população pode conhecer mais sobre a eletricidade no país?

Além das nossas publicações, que abordam a história da eletricidade para os diversos públicos – isso é, desde o técnico, composto por engenheiros e especialistas da área de energia e pesquisadores acadêmicos, até curiosos e crianças – estamos desenvolvendo um novo sistema de gerenciamento do nosso acervo. O objetivo é incorporar a tecnologia em todas as atividades para entregar experiências cada vez mais imersivas e educativas por meio de canais digitais, além de conteúdos segmentados voltados para a atualização desses diferentes públicos.

Cada público tem uma linguagem, mas todas elas falam tecnologia. Acreditamos que fomentar o acesso à toda essa informação e gerir esses conhecimentos é estratégico para o desenvolvimento do setor como um todo e fundamental em um mundo em constantes e velozes mudanças.

 

Augusto Rodrigues, presidente da Memória da Eletricidade, é sociólogo, formado pela Universidade de São Paulo – USP. Concluiu o curso de Mestrado em Ciência Política na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.